Crónica do Jardim de Infância de Luxo: Ou, Para que Serve Realmente um Family Office

Muito se escreve nesta nossa cidade sobre a misteriosa e augusta figura do Family Office. Descrevem-no como um cérebro financeiro, um polvo de investimentos, uma fortaleza de planeamento sucessório. Pura tolice. Depois de aturada observação, entendi finalmente a sua verdadeira e muito mais simples função: o Family Office é o jardim de infância mais caro do mundo.

É uma creche de luxo, uma Disneylândia para adultos disfuncionais, cujo único propósito é manter os herdeiros — essas crianças crescidas de intelecto frágil e apetites de titã — entretidos e, acima de tudo, longe do dinheiro de verdade.

As crianças, claro, são os ditos herdeiros. Temos o "Júnior", um rapaz de 30 anos cuja única competência na vida é a de torrar em três noites em Ibiza o que um homem honrado não ganha em três vidas. E temos a "Bibi", a sua irmã, cujo grande projeto existencial é uma "marca de coleiras de caxemira sustentável para cães deprimidos". Ambos partilham de uma comovente e absoluta incapacidade de gerir o seu próprio cartão de crédito, quanto mais um império.

E para cuidar destas adoráveis e perigosas crianças, existe o corpo de funcionários, que são as babás.

O CEO do "Office" é a Babá-Chefe. A sua principal função não é alocar capital, mas sim gerir crises de birra. Passa os dias a dizer frases como: "Não, Júnior, não podemos comprar uma equipa de Fórmula 1 esta semana" ou "Sim, Bibi, vamos analisar a sua proposta de patrocinar um retiro de ioga para influencers".

Depois temos o advogado, que é o Tio do "Limpa a Sujeira". Este é o especialista em resolver os pequenos embaraços do dia-a-dia, desde "acidentes" com um carro desportivo importado até "investimentos emocionais" em ex-modelos que ameaçam publicar biografias.

E o mais importante, o gestor de investimentos, que é o Monitor de Atividades Criativas. A sua tarefa é criar um "parquinho" para as crianças brincarem de serem homens de negócios. Ele arranja-lhes uns "investimentos-anjo" em startups de sumos detox, umas "participações" numa galeria de arte incompreensível ou numa quinta de vinho orgânico. O objetivo não é o lucro. O objetivo é dar às crianças um brinquedo caro para que elas se sintam importantes e não lhes passe pela cabeça ir brincar ao cofre principal.

A estrutura toda — as holdings nas Caimão, os trusts em Singapura — não é uma arquitetura de investimento. É o "cercadinho" do jardim de infância, a grade eletrificada do parquinho, desenhada para que as crianças não fujam e não se magoem (ou, mais concretamente, não magoem o património).

Portanto, não se iluda com a prosa imponente dos relatórios anuais. O Family Office é a mais sofisticada e dispendiosa operação de baby-proofing da história da humanidade. O patriarca fundador, esse velho lobo que construiu tudo, não contratou um exército de génios para multiplicar a sua fortuna. Ele contratou um batalhão de babás para impedir que os seus adoráveis e completos idiotas a transformassem em cinzas antes do próximo Natal.

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