O Alquimista de Colete e Outras Fábulas do Mercado

Depois de ter identificado a curiosa espécie do "Porteiro Financeiro", continuei as minhas expedições etnográficas por este ecossistema a que chamam "mercado para a pessoa física". E descobri que o porteiro é apenas o acólito de uma figura ainda mais prodigiosa: o Assessor-Alquimista.

A alquimia, como se sabe, era a arte mística de transformar chumbo em ouro. A sua versão moderna, praticada nos escritórios da Faria Lima e adjacências, propõe-se a uma transmutação ainda mais ambiciosa: transformar o seu modesto salário no tesouro de um nababo. E tudo isto, claro, através de passes de mágica digitais.

O ritual é sempre o mesmo. O neófito, atraído pelas promessas de riqueza fácil que pululam nas redes sociais, é conduzido a um templo virtual, o "home broker". Ali, o assessor-alquimista, esse Mago Merlin de colete acolchoado, apresenta-lhe os seus instrumentos místicos: gráficos cabalísticos que supostamente preveem o futuro, siglas que soam a encantamentos (CDB, LCI, COE, FII) e o grande caldeirão onde tudo acontece, o botão de "comprar".

A sua principal ferramenta, porém, não é a análise, mas o dogma da moda. Pois esta alquimia moderna é também uma casa de alta-costura. A cada estação, os grandes gurus da internet financeira — os nossos Clodovis do trade — ditam a nova tendência.

"Nesta primavera", anunciam eles com a solenidade de um oráculo, "a coleção é 'Ações de Varejo'! É o que se está a usar! Quem não tiver na carteira é um provinciano, um fora de moda!". E a manada, apavorada com a possibilidade de ficar de fora do baile da alta, corre a comprar os papéis, usualmente no exato momento em que já estão mais caros que um fato da alta-costura.

Passados três meses, a moda muda. "O Varejo agora é démodé! A tendência para o verão", canta o guru, "são os 'Fundos de Tijolo'! Rústico, sólido, um clássico!". E lá vai a manada, em pânico, vender o varejo em baixa para comprar o novo grito da moda, também no pico do seu preço.

É um ciclo perpétuo e glorioso. A única transmutação que de facto ocorre, com uma precisão científica, é a do dinheiro do cliente em taxas de corretagem e comissões para a corretora. O chumbo do investidor não vira ouro; vira pó. E o ouro... bem, o ouro materializa-se, como que por magia, no balanço trimestral da firma.

O grande truque final do ilusionista é convencer a sua plateia de que a culpa do fracasso é dela mesma, que não soube fazer a mágica direito. "Faltou-lhe mindset", dizem eles. "O mercado é volátil". E o pobre diabo, envergonhado da sua própria inépcia, prepara-se para o próximo espetáculo, pronto para apostar as suas últimas moedas na nova poção mágica do momento.

No fim de contas, esta "democratização" não passa de uma feira de esoterismo com uma boa conexão à internet. E o cliente não contrata um economista; ele paga uma subscrição para assistir a um espetáculo de ilusionismo barato, onde o coelho que desaparece da cartola é, invariavelmente, o seu próprio dinheiro.

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