O Banquete dos Espertos: Crónica sobre a Gastronomia de Quinquilharia Financeira
Esta nossa São Paulo é, com justiça, celebrada como uma capital da gastronomia mundial. Temos chefs que são verdadeiros artistas, que transformam ingredientes simples em obras de arte. E, no entanto, no mesmo solo onde floresce esta culinária sublime, viceja também a sua mais grotesca paródia: a alta-gastronomia de fast-food praticada pelas nossas corretoras de valores.
O mestre-cuca desta operação é o "Assessor-Chef", um especialista em servir pratos com nomes franceses que, no fundo, têm a substância de um hambúrguer de beira de estrada.
A experiência começa com o cardápio: o aplicativo da corretora. É uma peça de design magnífica, com uma lista infindável de iguarias de nomes sonoros e incompreensíveis. Oferecem-lhe uma "Terrine de COE ao molho de capital protegido (com um disclaimer em letra de pulga)", ou talvez uma "Seleção de fundos exóticos, colhidos nas montanhas distantes do risco desnecessário". Tudo parece sofisticado, exclusivo, irresistível.
O "Chef", com a sua lábia de maître, não lhe explica os ingredientes. Ele descreve a "experiência", as "notas de rentabilidade", a "harmonização com o seu perfil". E o cliente, intimidado por tanta pompa, aponta para o prato mais caro e complicado, confiando na perícia do mestre.
Mas se pudéssemos espreitar a cozinha, o que veríamos? Veríamos que a "Terrine de COE" é feita com os restos e as aparas do mercado de derivativos, tudo prensado numa forma para parecer elegante. Descobriríamos que os "fundos exóticos" são os mesmos velhos ingredientes de sempre, apenas servidos num prato diferente e com um raminho de salsa (a taxa de administração) a enfeitar. A cozinha não é a de um artista, é a de uma fábrica de comida processada, cujo único objetivo é dar um aspeto gourmet a ingredientes baratos e de baixo valor nutritivo.
E no final, claro, chega a conta. Depois de uma refeição que o deixou enfartado, mas curiosamente malnutrido (a sua carteira não rendeu nada), você recebe a dolorosa. E descobre as taxas ocultas: a "taxa de rolha" por ter trazido o seu próprio capital (custódia), o "serviço" de 20% sobre qualquer ganho que por milagre tenha tido (performance), e o preço exorbitante dos pratos em si (administração).
A verdade é esta: estas corretoras não são restaurantes finos; são food trucks da moda com uma equipa de marketing genial. Vendem-lhe junk food financeiro numa embalagem de luxo e cobram-lhe o preço de um banquete com estrelas Michelin.
O cliente acredita estar a participar de uma ceia de alta finança, quando, na realidade, está apenas a pagar o preço de um banquete para comer o pão que o diabo amassou.
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