Crónica da Bolsa de Afetos: Sobre as Vantagens Comparativas do Amor e a Bancarrota do Divórcio
Observo, nos cafés e nos escritórios desta cidade, a dança frenética dos afetos, e concluo, com a melancolia de um naturalista a observar a extinção de uma espécie, que o romance morreu. Não foi uma morte aparatosa; foi antes uma aquisição hostil. A linguagem da Faria Lima, com a sua lógica de ferro e a sua moral de planilha, invadiu o último reduto do irracional humano e transformou o amor numa joint venture. Recordo-me de uma anedota, que se conta como uma lenda nos corredores do poder financeiro, sobre uma jovem e bela dama que escrevera ao editor do Financial Times (ou a um banqueiro de Wall Street, a entidade pouco importa, pois o espírito é o mesmo). A sua proposta era um negócio, de uma honestidade brutal: a sua beleza, no auge do seu valor, em troca do acesso ao património de um homem rico. A resposta do editor, diz-se, foi uma obra-prima de cinismo e de clareza económica. Agradeceu a oferta, mas recusou o negócio. Explicou, com a paciência de um analista, que a beleza da dam...